Aborto: uma palavra com vários significados. Pode ser a autonomia sobre o próprio corpo, a liberdade de decidir o próprio futuro, a possibilidade de se manter viva. O Aborto seguro, gratuito, livre e legal é uma maneira de salvar a vida de milhares de mulheres. É uma forma de garantir que cada corpo é de cada mulher, e ela – ninguém mais – deve decidir sobre a própria vida. Vivemos em um país que criminaliza o Aborto, que criminaliza as mulheres por um direito que deveria ser fundamental: a soberania sobre si mesma.
Precisamos romper o silêncio sem nos imobilizar. Por isso, as dicas de segurança muitas vezes vão indicar falar sobre o Aborto sem usar essa palavra. Com isso queremos garantir que mais mulheres tenham acesso à informação e dialoguem de forma mais segura, sem que para isso sua liberdade ou integridade seja comprometida por mecanismos de vigilância. É uma estratégia para abrir mais espaço para essa conversa. Seguiremos falando sobre o Aborto, como sempre. Em alguns momentos, sem dar o seu nome. Em outros, dividindo experiências e informações em círculos de confiança, acolhimento e afeto.
Criaremos redes seguras para espalhar a informação e o cuidado. Vivas e livres nos queremos, abrindo caminhos até o dia em que falar de Aborto, com todas as letras e em todos os lugares, não seja um risco.
Precisamos falar sobre aborto de uma maneira mais segura. E pela internet o cuidado precisa ser redobrado.
Em momentos de emergência ou desespero pode ser que uma mulher que busca ajuda atire para todos os lados: pergunte aleatoriamente para pessoas de pouca confiança, procure com todas as letras no Google ou até comece a falar com pessoas desconhecidas em redes sociais.
Aqui vão algumas dicas para falar sobre aborto pessoalmente e pela internet de maneira a proteger a nós mesmas e a quem ajudamos:
PESSOALMENTE
1 – Procure alguém de confiança para conversar. Lembre-se que sempre haverá alguma amiga que te escute e te apoie de alguma maneira.
2 – Encontre a pessoa com quem você vai conversar pessoalmente em um lugar reservado. Palavras como ABORTO, GRAVIDEZ e INTERRUPÇÃO são palavras-chave que chamam a atenção de quem escuta. É importante manter um tom de voz discreto com a certeza de que ninguém está de antena na conversa.
3 – Se você precisa fazer um aborto, evite espalhar essa ideia para pessoas que não conhece muito bem, ou até para uma grande quantidade de pessoas. A notícia pode se espalhar e você pode ter sua vida exposta desnecessariamente.
4 – Mantenha a cumplicidade e o sigilo com quem te ajudou de alguma maneira. Assim você garante a sua segurança e a de quem te ajudou.
INTERNET
1 – Use a navegação anônima para fazer buscas. Tudo o que fazemos pela internet deixa rastros e dados que podem ser usados para chegar até você. Você pode proteger seus dados e navegar de forma anônima usando o TOR ou VPN .
2 – Nunca faça buscas sobre Aborto logada em redes sociais ou e-mail em outras abas. As informações de navegação se cruzam e essas buscas vão ficar no seu histórico.
3 – Use sites de busca alternativos ao Google. Um site de busca alternativo que não rouba seus dados é o DuckDuckGo.
4 – Pesquise as referências das páginas sobre aborto que visita. Veja se o site é confiável, se a organização do site é conhecida. Procure em várias fontes e fique atenta, pois existem páginas falsas, fraudulentas ou maliciosas.
5 – Nunca coloque seus dados pessoais em sites desconhecidos ou que você não tem referências se é seguro. Organizações feministas sérias terão um site com informações suficientes para que você perceba que não se trata de uma fraude.
6 – Evite falar sobre Aborto com todas as letras por e-mails como Gmail e Hotmail. Eles deixam rastros e se cruzam com suas informações pessoais.
7 – Use e-mail criptografado. Sempre que possível, se comunique via e-mail criptografado com outras pessoas que falam sobre Aborto. Você pode aprender a criptografar os seus e-mails com o Thunderbird.
Nas Redes Sociais
1 – Evite se expor em grupos abertos. Com certeza você não conhece pessoalmente todas as pessoas que estão nesse grupo, e pode ser que tenha algum perfil fake de alguém que pode ser tanto um investigador quanto um fundamentalista religioso colhendo dados e mapeando.
2 – NUNCA USE AS PALAVRAS CITOTEC, CYTOTEC OU REMÉDIO ABORTIVO. Não preciso nem dizer por quê, né?
3 – Evite usar palavras-chave mesmo em conversas privadas. Se você está precisando de ajuda e a única maneira de falar sobre o Aborto é pela rede social, evite usar as palavras-chave como ABORTO, GRAVIDEZ, INTERRUPÇÃO, etc. Fazendo isso você expõe a si mesma e à pessoa que está te ajudando.
4 – Tenha atenção com os códigos que você usa. Algumas pessoas usam códigos para falar sobre Aborto em redes sociais, o que já é um passo para uma comunicação mais discreta. Porém, alguns códigos já estão ficando manjados: Pense antes de escrever que “uma amiga está com dor de barriga”.
5 – Crie códigos de comunicação com as pessoas de confiança. Se junte pessoalmente com as pessoas de confiança e pense em códigos para falar sobre o Aborto quando for necessário em alguma situação de emergência. Assim, quando precisar falar sobre o Aborto poderá usar palavras que não levantam suspeita e todas já saberão do que se trata.
No Celular
1 – Evite falar sobre Aborto em grupos do Whats App. Você pode não conhecer todas as pessoas que estão no grupo, e no meio dessas pode ter alguém que vaze as informações, tirando prints da tela e repassando para outras pessoas que não estão nesse grupo.
2 – O que vale para a comunicação pessoal e para as redes sociais também vale para o celular: Evite usar palavras-chave. Prefira combinar com a pessoa e quando se encontrarem pessoalmente, converse abertamente com ela.
3 – Instale aplicativos de mensagem criptografados e seguros. O Signal Private Messenger está disponível nas centrais de Apps e tem opções para deixar a comunicação pelo celular mais segura.
4 – Apague mensagens do seu celular. Evite acumular conversas importantes. Se você perder o seu celular alguém pode ter acesso aos seus dados e a tudo que foi falado.